Ídolo do Papa jogou na Portuguesa e fez gol no Palmeiras
Tales Torraga
Huracán e San Lorenzo fazem hoje às 19h15 o clássico argentino do sábado no Palácio Ducó, Parque Patrícios, zona sul de Buenos Aires.
Falar de San Lorenzo no Brasil é citar o papa Francisco. E citar o Papa – incrível – é viajar aos melhores anos da Portuguesa.
Por 14 meses entre 1952 e 1953, o clube contou com o atacante René Pontoni, ídolo de Jorge Bergoglio. Foram 17 jogos e 5 gols, segundo a Portuguesa.
Desses cinco, dois gols foram no Palmeiras. Um, no maior goleiro a defender o time – Oberdan Cattani, estátua no clube desde o ano passado.
Pontoni superou Oberdan na Taça São Paulo de 1952 – noite de 21 de agosto de 1952, quinta-feira, Pacaembu.
A Portuguesa ganhou por 5×3 – estava 5×1. Aquele Palmeiras, vale lembrar, vinha do título da Copa Rio de 1951, o seu Mundial.
O outro gol de Pontoni no Palmeiras foi também no Pacaembu, mas no goleiro Fábio. O relato está na página 20 da ''Folha da Noite'' de 20 de outubro de 1952.
Aquela Lusa – a da primeira metade dos anos 50 – foi a melhor Lusa de todos os tempos e, sem exagero, dos melhores times do mundo da época.
Campeã no Brasil (Rio-SP 1952 e 1955) e no exterior (giras por América e Europa), cedeu três jogadores – Julinho, Djalma Santos e Brandãozinho, além dos recém-saídos Pinga e Cabeção – para o Brasil que jogou na Suíça o Mundial de 1954.
Daí o cacife para buscar e atrair ''Pontonis'' de países vizinhos.
Outra curiosidade. Em amistoso em Birigui, 2×2 com o Bandeirante em 8 de fevereiro de 1953, Pontoni fez os últimos gols de sua vida. ''Foi o atacante mais sutil, preciso e brilhante da história argentina'', cravou a revista El Gráfico em 1975.
Nascido em Santa Fe em 1920, Pontoni despontou nos anos 40 ali mesmo, no Newell´s Old Boys. Seu aproveitamento – 67 gols em 110 jogos, 0,61 – segue o melhor da história do clube que revelou Lionel Messi.
Além de atacante re copado, Pontoni era um tipazo. Um dândi argentino se divertindo com o futebol. Sempre com buena onda.
Em 1945, já astro e galã da seleção, chegou ao San Lorenzo. La rompió. Arrebentou. Ganhou o Nacional 1946 com 90 gols em 30 jogos. Só Pontoni fez 20.
Então com dez anos, Jorge Bergoglio era um apaixonado mais por aquele ataque. Farro, Pontoni e Martino, el terceto de oro.
Em 2013 – sete décadas depois – e já Papa, lembrou dos gols de Pontoni em carta ao presidente do San Lorenzo.
Em dezembro de 1946, Pontoni e o San Lorenzo fizeram turnê por Espanha e Portugal. ''O que era ir para a Europa no inverno, ainda mais solteiro!'', gozava.
Humilharam a seleção da Espanha, 6×1 e 7×5. Em Lisboa, 10×4 contra Portugal.
Pontoni gostava de sair e costumava combinar com técnicos e dirigentes – cada escapada, dois gols na partida. Cumpria. E assim ficava.
Era, como brincam os argentinos, o ''Marinero Bengalí'' deste delicioso sucesso dos Abuelos de la nada, os ''avôs do nada''. Estava curtindo a vida adoidado.
Astro também da seleção, foi tricampeão sul-americano (1945, 46 e 47) e somou 19 gols em 19 jogos pela Argentina. É a segunda melhor média da história da seleção, atrás só dos 21 gols em 19 jogos de Herminio Masantonio, também dos anos 40.
Pontoni certamente seria titular – e eventual artilheiro – das Copas do Mundo dos anos 40 não realizadas devido à Segunda Guerra Mundial.
Em 1948, arrebentou a perna em dividida com o zagueiro De Zorzi, do Boca.
Jogou ainda na Colômbia quando o futebol no país vivia seu auge e desembarcou em São Paulo aos 31 anos para defender a Portuguesa em março de 1952.
Depois, voltou ao San Lorenzo e foi um discreto técnico.
Seguiu a vida com uma pizzaria – a La Guitarrita, em Núñez, perto do Monumental. A pizzaria funciona até hoje e vale visita também pela sua memorabilia.
Em 1975, a revista El Gráfico deu a Pontoni a 9 na Argentina de todos os tempos.
Aos 63 anos, em 1983, sofreu um infarto e morreu na Santa Fe onde nasceu.
Seus gols seguem vivos e comemorados – até no Vaticano. Certamente será lembrado pela torcida no clássico de hoje.
Um perfil de fôlego sobre Pontoni está no ótimo Futebol Portenho. Vale cada linha.