Patadas y Gambetas

Análise: O biotipo explica esta ‘Eurocopa’ na Rússia

Tales Torraga

O blog hoje tem um convidado de luxo: Ernesto Cherquis Bialo, uruguaio de 78 anos. Ex-diretor de redação da revista ''El Gráfico'', ele é um dos mais brilhantes pensadores do futebol do Rio da Prata. Vale demais conferir a sua interessante análise sobre as eliminações de Uruguai e Brasil – ambas ocorridas nesta sexta (6).

Com vocês, El Maestro Bialo:

''O Brasil x Bélgica foi o jogo mais dramático entre os 56 que vimos na Rússia. Foi um ida e volta constante, de um gasto físico enorme, a pura velocidade, a pura potência. Ficou claro: começou a prevalecer o biotipo, a genética e a condição física do jogador europeu sobre o atleta sul-americano.''

((Por supuesto, o biotipo do jogador europeu não é somente o biotipo pátrio. É globalização e darwinismo social. DNA vencedor à venda, muchachos.))

''Os jogadores de maior potência física acabam sendo os principais para esses resultados quase inusitados. O Brasil se despediu jogando com absoluta dignidade, assim como o Uruguai.''

''Neymar deu tudo. Suárez deu tudo. A diferença de França e Bélgica para Uruguai e Brasil é a mesma que vimos entre Croácia e Argentina. Chegou a hora de começar a reformular algumas questões.''

''No futebol atual, já não veremos grandes figuras e grandes craques, mas sim jogos muito intensos. Não veremos mais fantasias, e sim uma velocidade exorbitante. Não veremos o brilho individual, mas sim times estruturados. Veremos que a velocidade, a força e a potência são os fatores fundamentais que marcam este final de Copa.''

Quem entrega análise semelhante é o ex-zagueiro Óscar Ruggeri, hoje comentarista do Fox Sports e da TV Pública da Argentina:

''Os europeus passaram por cima dos sul-americanos. O futebol hoje é extremamente físico. Um tranco e listoya tá, acabou a jogada. A América do Sul sempre prevaleceu sobre a Europa pela questão técnica. E hoje os europeus igualaram a nossa técnica. E o que acaba definindo? Um pique do Mbappé ou um esbarrão do Lukaku, que é forte e arremessa qualquer um para fora do campo.''

''A genética e o biotipo do europeu agora estão prevalecendo. Eles treinam o físico desde criança. Imagine um time inteiro com essas máquinas aí, metendo a perna, suando, jogando forte? É hora de rever o futebol da América do Sul. Cada um deve olhar para o seu pedaço: Argentina, Uruguai, Brasil, Peru, Colômbia. Mas seria interessante que este novo ciclo começasse com uma observação conjunta de todo o continente'', pediu El Cabezón Ruggeri na noite de ontem (6) na TV Pública.

A Copa do Mundo só conta com campeãs europeias desde 2006: Itália, Espanha e Alemanha, em contagem que vai crescer com o atual Mundial. Os seis países que seguem com chances de título são todos do Velho Continente. A última volta olímpica sul-americana – Brasil em 2002 – vai completar 20 anos no Catar-2022.