Patadas y Gambetas

Por que os argentinos estão encantados com Tite (ou melhor, Tité)?

Tales Torraga

Sozinho e em silêncio, Jorge Sampaoli já está em solo argentino. E o que os torcedores e jornalistas do país vizinho mais têm feito nos últimos dias? É situar a vergonha azul e branca pegando como parâmetro o papel desempenhado pelo Brasil na Rússia. E a comparação entre o Pelado Sampa e o técnico Tité (os argentinos não conseguem chamá-lo de Tite, nem grafar o nome sem acento) está gerando uma situação das mais inusitadas em Buenos Aires.

Antes orgulhosos do êxito conquistado pelos seus treinadores em todo o mundo, os argentinos agora usam Tite como um exemplo do que Sampaoli deveria fazer – e jamais fez – com os seus comandados. Mesmo a postura de Tite de retirar Neymar de qualquer polêmica com o técnico Juan Carlos Osório foi bastante aplaudida pelos argentinos. ''Isso é o que faz um comandante de verdade. Ajuda a explicar o Brasil pós-7 a 1. Ajuda a explicar por que a Argentina fez a pior Copa desde 2002'', analisou o jornal ''La Nación''.

O ''La Nación'' não é o único a jogar confetes sobre Tité (o acento seria um resquício de Pelé?). Ninguém se pronuncia com essas palavras, mas o pensamento geral dos vizinhos sobre Tite é bastante elogioso com a sua capacidade de se fazer uma geração de jogadores indolente e individualista – sob a ótica argentina – atuar de uma maneira coletiva e extremamente profissional como a que se vê na Rússia.

Um dos jornalistas mais ouvidos da Argentina, Alejandro Fantino, na Rádio La Red, passou longos minutos nesta terça-feira (3) usando a reconstrução do Brasil para citar o que a AFA deveria fazer. O primeiro ponto a ser citado em qualquer análise argentina é o fato de o Brasil chegar à Rússia com uma equipe que pouco ou quase nada tem a ver com a usada em 2014. É esta ''limpa geral'' que os argentinos defendem para si a partir deste momento de caos no futebol local.

Tite e Bianchi na Casa Amarilla, o CT do Boca, em 2014 – Arquivo pessoal

É claro que o orgulho argentino se manifesta também nas lembranças de que Tite passou, em 2014, um longo tempo em Buenos Aires estudando e conversando com Carlos Bianchi, uma das suas referências no trabalho. ''É um aluno argentino, mais um, como Guardiola'', relembra Fantino, para logo emendar: ''A Argentina hoje está tão louca, com o futebol tão feito m…., que nem naquilo que sempre fomos os melhores, que é na inteligência e na maneira de pensar o futebol, hoje nos basta. Alguém consegue entender por que não dão um cargo a Menotti na AFA? E por que esses ladrões e irresponsáveis querem mandar em tudo sem entender um c…..?.''

O canal de TV TyC Sports informou ontem (3) que um dos técnicos sondados para esta reconstrução argentina é Pep Guardiola – o que desatou a fúria de comentaristas mais conservadores como o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, no Fox Sports. É claro que não há negociações em andamento, mas que ninguém se espante se o nome de Tite logo vier a ser defendido. O seu cartaz é, de longe, o melhor de um técnico brasileiro com os vizinhos nos últimos anos.