Patadas y Gambetas

Há 40 anos, Cruzeiro batia River: maior final Brasil-Argentina da história

Tales Torraga

Time brasileiro profundamente respeitado e admirado na Argentina, o Cruzeiro de 1976 comemora neste sábado (30) o aniversário de 40 anos da sua primeira conquista da Libertadores da América, justamente contra o gigante River Plate.

Talvez o Santos de Pelé, campeão da Libertadores de 1963 em plena Bombonera, gere admiração parecida – mas são tempos muito distantes e de registros muito escassos, impedindo uma similaridade com o tremendo equipazo do Cruzeiro.

Na final de 40 anos atrás chama a atenção o placar agregado das três decisões entre Cruzeiro e River Plate. Acabou 8×5 (!) para o time mineiro, que só evitou a incerta prorrogação do terceiro jogo com um surpreendente gol de falta aos 43 minutos do segundo tempo para fazer o 3×2 que garantiu a taça e gerou a briga generalizada chamada de a 'Guerra do Chile'.

Os dois times contavam com craques que estão entre os maiores da história de ambos. O vencedor Cruzeiro, ¡por Dios!, tinha astros de Seleção como Raul, Nelinho, Piazza, Jairzinho e Joãozinho. Crás (gíria portenha para craques).


Acompanhados ainda de jogadores não tão conhecidos dos argentinos, mas igualmente eficientes como Palhinha, Eduardo e Zé Carlos.

Os técnicos eram também históricos. Pelo Cruzeiro, Zezé Moreira. E Angelito Labruna pelo River que vivia na época redenção similar à do ano passado.

Saíra, em 1975, de uma fila de 18 anos sem títulos. Contava com jogadores que ganhariam a  Copa de 78, Fillol, Passarella, Alonso e Luque, e outros grandes como Roberto El Mariscal Perfumo (ex-Cruzeiro), J.J.Lopez, Mostaza Merlo, Pinino Más e o esforçado Alejandro Sabella, futuro técnico da Seleção.

O Cruzeiro deu um baile no Mineirão no primeiro jogo: 4×1, mas o River tem, de una, a justificativa – estava dizimado pela selvagem semifinal contra o fortíssimo Independiente terminada em 1×0 dias antes.

O baque pós-vitória foi tamanho que dois jogadores que nunca se lesionavam, Fillol e Passarella, não tiveram condições de seguir a decisão normalmente. Passarella até foi para o sacrifício e atuou no segundo jogo. Fillol começou o jogo do Mineirão.

Só começou.

Precisando sí o sí da vitória, o River reverteu o placar com um 2×1 conquistado no peito e no apito em Buenos Aires: o segundo gol foi ilegal pela falta em Raul e por toque de mão na jogada que terminou com González empurrando para as redes.

Neste jogo, Nelinho desconfiou que os argentinos estavam dopados. Resgatando o histórico do período, possibilidade concreta.

Desta partida, o lance mais lembrado pelos argentinos é El Mariscal Perfumo, machucado, cavar a expulsão de Jairzinho com um soco na cara só para esperar sua reação.

O desempate ocorreu em Santiago, 48 horas depois. O Cruzeiro abriu 2×0 e deu sinais de despachar o River, mas os portenhos alcançaram o 2×2. Mesmo combalidos, passaram por cima do desgaste e dos desfalques.

Quando tudo indicava prorrogação, aos 43 minutos do segundo tempo veio o épico gol de falta de Joãozinho, lamentado até hoje pelos argentinos.

Muitos choram: se o goleiro fosse Fillol (não o reserva Landaburu), a bola não entraria. Choram por chorar. Também aplaudem o título do Cruzeiro desde então.

O Cruzeiro voltou a fazer a final da Libertadores de 1977. Perdeu para o Boca nos pênaltis. Até hoje em Buenos Aires fala-se abertamente que, tanto quanto o futebol, foi o doping que fez a taça parar em La Boca.