Patadas y Gambetas

Pratto ganha importância inesperada para a decisão

Tales Torraga

Parece que hoje (9) realmente termina. A final de Libertadores da América mais desejada pelos argentinos virou também a mais longa e confusa. Nada menos que 28 dias se passaram desde o primeiro jogo, o elétrico 2 a 2 na Bombonera, e River Plate e Boca Juniors agora vão se lançar a 90 minutos de consequências profundas na vida dos dois clubes e dos torcedores que juntos respondem, segundo o governo nacional, por 73% da população de 44 milhões de argentinos.

(O país movimenta este domingo como se fosse um jogo de Copa do Mundo. As pessoas marcam os tradicionais programas dominicais para antes ou depois do jogo, jamais durante, como costuma ocorrer nos Mundiais.)

Em campo, o clima é péssimo, com os jogadores trocando farpas e melindres. Em Madri, a torcida do River inventou um cântico chamado ''Al cobarde de Tevez'' (''Para o covarde do Tevez'') que virou um sucesso instantâneo, questionando o cancelamento da partida do Monumental.

Neste cenário de animosidade, um jogador de largo passado pelo futebol brasileiro será muy exigido tanto na missão de acalmar os companheiros quanto furar a defesa rival. Estamos falando de Lucas Pratto, que ganhou uma importância inesperada para esta decisão.

O primeiro ponto é exatamente este, o mental. Pratto é tido pelo técnico Marcelo Gallardo como um dos seus jogadores mais serenos, que pensam mais no grupo. Neste domingo, o atacante será uma espécie de sub-capitão do volante Leonardo Ponzio, e em alguns momentos é capaz que Pratto assuma as rédeas na condução do grupo – Ponzio está muito irritado com os jogadores do Boca e pode sair de si com uma facilidade maior do que o afável Oso Lucas – ''urso'' (''oso'') é o apelido de Pratto pelo seu biótipo.

Outro ponto que força Pratto a ter uma tarde dos sonhos é a falta de opções ofensivas do River Plate. O colombiano Santos Borré, que vinha sendo seu companheiro, está suspenso por três amarelos. E é quase certo que Pratto será o único atacante do River, pois Nacho Scocco está praticamente descartado, com lesão na panturrilha. A opção entre os reservas será o juvenil Julián Álvarez, de 18 anos, uma promessa, mas obviamente muito cru para partidas como esta.

A condição ''solo'' de Pratto contrasta com o superataque do Boca. O técnico Guillermo Barros Schelotto sinalizou que vai jogar com dois centroavantes como titulares: Wanchope Ábila e Darío Benedetto, além do recuperado Cristian Pavón. Alternativas para mudar o jogo? Muitas. Tevez, Zárate e Cardona, para ficarmos só em três, sem esquecer também do rápido Villa e do técnico Almendra.

E o River não tem nada. Aí o título pode ser definido.

Pratto terá, portanto, uma tripla função. 1) Acalmar os companheiros; 2) Combater a defesa xeneize; 3) Buscar o gol. Lucas foi a contratação mais cara da história do River, custando R$ 48,5 milhões. Em caso de título millonario, ele vai poder dizer que custou até barato.

Sua condição neste domingo é mesmo sui generis. Perdendo, poderá sempre argumentar a falta de companhia. Ganhando, assume muito provavelmente um protagonismo que ninguém esperava. Quem agradece é o São Paulo: o título de Pratto nesta Libertadores renderá um bônus de 1 milhão de euros (R$ 4,3 milhões) aos cofres tricolores.