Patadas y Gambetas

Independiente denuncia rede de prostituição na sua categoria de base

Tales Torraga

Argentina e Itália fazem amanhã (23) um badalado amistoso em Manchester, mas a capa desta quinta do jornal ''Olé'', o principal diário esportivo argentino, é esta.

Capa do Olé nesta quinta (22) – Reprodução

''Que apodreçam no inferno''. E a história é mesmo estarrecedora.

O Independiente formalizou uma denúncia – tornada pública em Buenos Aires na noite desta quarta –  depois de apurar que jogadores de 14, 15 e 16 anos das suas categorias de base foram levados, nos últimos quatro meses, a fazer parte de uma rede de prostituição. O principal suspeito pelo recrutamento e pela exploração sexual dos menores é um jogador juvenil do próprio Independiente.

A denúncia teve como origem o depoimento de um dos jogadores do esquema – de apenas 14 anos. Ele contou tudo em prantos a um dos psicólogos do Independiente. A denúncia já está registrada na UFI (Unidade Fiscal de Investigação) de Avellaneda, município onde está instalado o clube.

O escândalo foi revelado pelo jornalista Gustavo Grabia, no canal de TV TyC Sports. Grabia é conhecido no Brasil por ser autor de um famoso livro sobre a Doce, a barra brava do Boca, traduzido para o português.

O caso está registrado como ''abuso de menores e facilitação de abuso''. Sabe-se até agora que 20 jogadores do clube recebiam cerca de 1.000 pesos (cerca de R$ 160) para se prostituir com homens mais velhos em um apartamento de luxo no bairro de Palermo, um dos mais chiques da capital, no período escolar, à tarde. Na denúncia, aparece também o nome de um árbitro de jogos juvenis como cliente.

O aberrante caso é o primeiro do tipo na Argentina.

O responsável pela denúncia: Fernando Berón, coordenador da base do Independiente – Divulgação

Fernando Berón, coordenador das divisões de base do Independiente, foi quem apresentou a denúncia e é quem promete levar a história adiante. A Argentina sempre está a um passo de comoções – e a que se instala agora é justificável.

O abuso de menores vai na contramão daquilo que o país enxerga como uma ''superprofissionalização'' de seus futuros talentos. Os clubes argentinos investem há pelo menos uma década em um verdadeiro batalhão de psicólogos, dentistas, nutricionistas e demais estudiosos para polir – e depois vender – suas promessas.

As ''pensões'', como são chamados os alojamentos dos clubes, são vitais.

É ali que a formação humana ocorre – em condição sentimentalmente desgastante e de muita distância da família. Os jovens ficam sempre na mão de terceiros.

A proteção é falha. E gera trauma eterno a quem mal começou a vida.

* Atualizado às 11h40: O blog apurou que a rede de prostituição é mais ampla e que o Independiente é só um dos clubes com menores explorados sexualmente. Já há uma frente de investigação para checar também outras instituições argentinas.