Patadas y Gambetas

Afogada na loucura, Argentina delira com o Boca x River de hoje

Tales Torraga

Atualizando às 23h16: Mais tensões que emoções. Oitavo título de Gallardo em quatro anos. E que goleiro de luxo, Franco Armani. Scocco? Craque!

***

Ninguém dormiu.

Ninguém respirou e agora ninguém consegue pensar direito nesta Argentina que transpira baldes de Fernet e fede a cigarro e maconha. São as horas prévias deste histórico Boca Juniors x River Plate que vale um título oficial às 21h10 (de Brasília) de hoje (14) em Mendoza – com o Estádio Malvinas Argentinas em clima de guerra e blindado por 1.500 policiais em um estádio superhipermaximegablaster lotado por mais de 40.000 pessoas e 50% de cada uma das maiores torcidas deste loco país.

Mora, Tevez e uma comoção histórica – Olé/Montagem

Para torcedores de River e Boca, esta quarta (14) vale mais que a própria Copa do Mundo da Rússia.

Exagero? Só a quem nunca esteve na Argentina.

Prova disso foi dada na chegada dos dois times ontem a Mendoza, a 1.200 quilômetros (!) de Buenos Aires (!!). Dia útil, de trabalho? Pois parecia que todos os 115.000 habitantes da cidade – e mais os turistas – estavam no aeroporto, nas ruas, nos hoteis e na frente do estádio. Foi uma catarse que poderia confundir um desavisado que imaginasse que a partida seria na terça, e não nesta quarta.

Esta Supercopa Argentina cruza nesta quarta os campeões do Argentino (Boca) e da Copa Argentina (River).

Parece mentira. Mas é só a segunda vez na história que Boca e River decidem um título oficial – a primeira e única até aqui foi há 42 anos, quando o Boca ganhou por 1×0 e ficou com o Argentino de 1976.

E quando vai ser o próximo mano a mano? Ninguém sabe.

Tevez acena em Mendoza – Twitter/Boca

É por isso que não há torcedor que não olhe para esta decisão como a chance perpétua de virar para o rival e ter um motivo praticamente eterno para novas gozações. Não é só a glória esportiva. É a superioridade perante o rival – algo que seduz demais em qualquer país do mundo, e quem conhece um pouco que seja da Argentina sabe como este discurso de ''soberania'' é muy fuerte acá.

O Boca chega melhor. Lidera o Argentino há 15 meses e conta com um Tevez motivadíssimo repetindo a cada instante que este é o jogo da vida dele, ''que primeiro foi torcedor e depois jogador''. Os 11 titulares do encrenqueiro técnico Guillermo Barros Schelotto nesta noite serão os seguintes: Rossi; Jara, Goltz, Magallán e Fabra; Nández, Wilmar Barrios e Pablo Pérez; Pavón, Tevez e Cardona.

Rodrigo Mora sufocado pelos fanáticos – Twitter/River

O empate leva a decisão para os pênaltis – e o Boca já sinalizou que se chegar a este ponto vai trocar de goleiro, pois o reserva Sara é melhor que Rossi para as cobranças. Ou seria um mero blefe? Puede pasar de todo – pero todo, eh?!

O River confia em Lucas Pratto – que tem diante de si a chance única de recompensar cada centavo dos US$ 14 milhões desembolsados por ele.

O técnico Marcelo Gallardo leva a campo os seguintes jogadores: Armani; Montiel, Maidana, Martínez Quarta e Saracchi; Enzo Pérez, Ponzio, Nacho Fernández e Pity Martínez; Pratto e Mora.

O gigante de Núñez está péssimo no Argentino, ocupando só a 18ª colocação. Mas até isso vai virar um motivo de alegria para o torcedor irritar o contrário dizendo que nem numa situação tão desigual da tabela houve uma chance de vitória.

Todos cagados na capa de hoje do Olé – Reprodução

River e Boca, juntos, respondem por 70% dos 44 milhões da população de uma Argentina que está sufocada com esta apreensão. Parece que a ''vida comum'' foi arrancada da rotina. As TVs, os jornais, as rádios, os portais e as redes sociais não têm outro assunto. Hora é a opinião de um psicólogo, hora é um político, hora é um professor, hora é o documentário mostrando como Boca e River explicam o país, hora são as crianças palpitando o superclássico no colégio, hora são os detalhes infinitos de um jogo que promete marcas profundas em vencedores e vencidos.

O Esporte Interativo e o Fox Sports 2 transmitem para o Brasil.

Capa do jornal Crónica – Reprodução

Quem assistir vai entender perfeitamente por que bancar provocação de brasileiro em Copa do Mundo é fichinha. Mil gols, Maradona x Pelé, 30 anos sem Copas, fila sem fim, Messi amarelão. Digam o que quiserem e quantas vezes quiserem.

Nada vai ser como ganhar – ou perder – a chance de gozar o rival hoy e para siempre nesta eterna gangorra de traves de ouro e barro.