Patadas y Gambetas

Opinião: Argentina dá lição ao Brasil na Libertadores

Tales Torraga

A Argentina tanto está rindo à toa que o sol brilha radiante por toda a fria Buenos Aires nesta quarta (9). O país começou a Libertadores em greve e sem futebol. E ainda assim foi a primeira nação a garantir a ida às quartas, com River e Lanús.

Pipa Alario, Enzo Pérez e Chino Rojas / Reprodução ''Olé''

Os dois clubes deram a sensação de filme repetido – um ''Rocky'', apanhando, apanhando, não caindo, resistindo e…vencendo, pois ¡Monzón es argentino, loco!

Começamos com o River, que jogou para mais de 70.000 pessoas no superlotado e enlouquecido Monumental em mais uma noite portenha de descontrole de massas.

O empate por 1×1 com o Guaraní do Paraguai exibiu muitas falhas na equipe do técnico Muñeco Gallardo, que mexeu no goleiro, na defesa, no meio-campo e no ataque do time que havia vencido por 2×0 na ida, no Defensores del Chaco.

E este 2×0 em Buenos Aires quase esteve ao alcance dos paraguaios, que perderam um gol incrível quando venciam por 1×0. E o que o River fez? Não se desesperou. Controlou os nervos e passou a se matar de correr em campo. Não se afobou com a histeria e comprovou que Libertadores se ganha com futebol sim – mas especialmente com brio, atitude, estratégia e caráter.

R de River, R de ''re-si-liente'', diria Tite.

Em casa, o Lanús igualmente não jogou bem, mas fez o básico para despachar o Strongest por 1×0 – mais que suficiente depois do 1×1 na ida na altitude da Bolívia.

Foi um xadrez com os pés. O Lanús pressionava, mas falhava na finalização. O Strongest apostava nos contragolpes e nas maldosas patadas dos seus volantes, e em dado momento o time argentino ficou seriamente nas cordas.

Mas a Argentina gosta das cordas. Vive, afinal, em uma – e das mais bambas.

Seus times sabem sofrer e sabem ganhar – e eis uma lição valiosa que tanto Galo quanto Palmeiras precisam colocar em prática nesta quarta-feira de alta tensão.

O que ficou também muito claro no desempenho argentino nesta terça foi o poder de fazer mais com menos.

River e Lanús vinham inativos e em pré-temporada, e não caíram no conto da facilidade, muito menos na festa da torcida. Em certo momento, deu até para lembrar do Brasil x Argentina da Copa de 1990 – tamanha a adversidade copeira.

Para quem não lembra, a Argentina levou três bolas na trave antes de o gordo, manco e machucado Maradona driblar e humilhar o Brasil e colocar Caniggia na cara de um gol que rendeu a vaga – e que rende festa e música até hoje.

''Bambeou, mas não caiu'', já ensinava Osmar Santos. Assim é o futebol argentino.

Desprezar as vagas de River e Lanús obtidas contra escolas menores do continente é brigar com a realidade. O Palmeiras sofre com os equatorianos do Barcelona; o Atlético-MG, com os bolivianos do Jorge Wilstermann.

Convém que os jogos brasileiros sejam um dia depois de River e Lanús. O manual de ''sofro, logo classifico'' está aí, em VT e HD. Basta humildade para aprender.

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Nobleza obliga: Quem lê o blog sabe desde 8 de março que a crise que paralisava o Campeonato Argentino não afetaria os times do país da Libertadores. Muito pelo contrário. E qual o primeiro país garantido nas quartas? Justamente a Argentina.

Que o Lanús iria longe nesta Copa estava na cara desde 6 de fevereiro. As boas possibilidades do impressionante River foram esmiuçadas em abril.

Pois vamos então redoblar la apuesta: a lógica aponta um River x Lanús na semifinal. Atlético-MG e San Lorenzo, favoritos para também alcançar as quartas, hoje estão dois degraus abaixo da muy fuerte y re copada dupla argentina.