Patadas y Gambetas

Como Francescoli virou o discreto mentor de Zidane no Real campeão de tudo

Tales Torraga

Ex-jogador e ex-técnico do Real Madrid, o argentino Jorge Valdano, hoje com 61 anos, é uma das maiores inteligências do esporte em todos os tempos.

Seu apelido em Buenos Aires diz tudo: ''O Filósofo''.

Em papo com a FOX Sports portenha na semana passada, Valdano contava, com a prosa inigualável de sempre: ''Das grandes surpresas que Zidane sempre me demonstra, a maior é sua faceta de comunicador. Ele é muito tímido. Ele gera muito respeito pelo grande jogador que foi. Zidane escuta muito e fala pouco, e o que ele fala tem um poder muito forte. Quando ele fala, as pessoas nem tossem. Zidane instalou o sorriso no clube em um ambiente antes muito pesado com Mourinho''.

Zidane e Francescoli em evento da Fifa – Divulgação

Zidane, taça após taça, deixou para trás toda e qualquer desconfiança.

E sua facilidade ao lidar com os colegas de trabalho e ter uma positiva voz de comando é a reprodução fiel da mais perceptível qualidade profissional de hoje de seu antigo ídolo e atual grande amigo, o uruguaio Enzo Francescoli, de 55 anos.

O técnico francês venera tanto Francescoli que os contatos entre os dois pelo celular são frequentes – especialmente nos momentos decisivos, quando Zidane encontra, na amizade com Enzo, a relação perfeita para trocar confidências com um confiável interlocutor que está muito longe dos holofotes europeus.

Francescoli hoje é dirigente do River Plate – e o blog apurou com pessoas ao seu redor que a grande conversa fora da rotina da decisão do Argentino entre River e Boca era em como Enzo estava vibrando e colaborando com o amigo merengue.

Zidane, vale lembrar, tem tamanha paixão por Enzo que reproduziu o nome – Enzo – em seu filho mais velho, de 22 anos, que também joga como meia, no Real B.

A final do Interclubes de 1996, quando Zidane e Francescoli se enfrentaram no título da Juve sobre o River, não entrou para a história apenas pelo confronto – mas também por Zidane ter trocado camisas com o ídolo e ter até dormido com o uniforme tão logo o ganhou, e também por meses a fio, como um pijama.

A paixão de Zidane por Francescoli vem dos tempos em que o uruguaio jogou na França, entre 1986 e 1990 – primeiro no Racing de Paris, depois no Olympique.

Francescoli demonstrou ser um expert em comunicação efetiva e silenciosa por uma razão totalmente justificada. Ele foi sócio nos Estados Unidos da GolTV, emissora especializada em esportes, e absorveu todo o conhecimento que pôde, fazendo treinamentos e compartilhando com Zidane tudo o que aprendeu.

Como virou rotina nos últimos anos, Zidane e Francescoli se encontraram no mês passado em Madri. Zinedine foi perguntado sobre o ''mestre Francescoli'' em plena entrevista coletiva depois do Real. E o jornal ''Olé'' não perdoou, cravando perfeito: ''Cai até uma baba da boca de Zidane quando ele começa a falar''.