Patadas y Gambetas

Argentina já cortou a cara de seu próprio jogador para trapacear a Bolívia

Tales Torraga

Em 2 de abril de 1997, a Argentina foi a La Paz enfrentar a Bolívia, situação que vai se repetir às 17h (de Brasília) desta terça-feira (28) pelas Eliminatórias da Copa.

Comandada por Daniel Passarella, a Argentina sofria com os altos e baixos, mas não tinha participação ameaçada no Mundial de 1998. O grande sofrimento vinha das declarações do sinistro técnico, que disparou pesadas farpas à Conmebol por permitir jogos na altitude de 3.600 metros de La paz. ''Vamos para uma tarefa desumana'', atirou, fazendo lobby para o fim das partidas na capital boliviana.

El Kaiser Passarella precisou bancar as hostilidades que seu discurso gerou. O estádio Hernando Siles foi uma mistura de formigueiro e panela de pressão, e a Argentina se esqueceu de jogar – preferiu distribuir socos e patadas.

Em um desses choques, o volante argentino Díaz teve o nariz fraturado. Instantes depois, o zagueiro Vivas pegou uma patada covarde e em cheio nos testículos de um jogador boliviano e foi expulso. Era um escândalo atrás do outro. O meia Zapata também levou vermelho e agrediu um boliviano para provocar sua exclusão.

Depois de tanta loucura, o atacante Julio Cruz foi pegar uma bola perto do banco boliviano e levou um soco, violento e covarde, no lado direito do rosto. Passarella então o carregou ao vestiário. Chegando lá, El Kaiser, de notória fobia à imprensa, chamou os fotógrafos para registrar o corte e o sangue na cara do camisa 9.

O soco foi dado no lado direito do seu rosto – e o corte, razoavelmente profundo, no lado esquerdo, em uma situação bastante nebulosa até hoje, 20 anos depois.


Julio Grondona, o todo-poderoso do futebol argentino, logo saiu em defesa de Passarella e de Cruz: ''Ele caiu da maca, desmaiou e cortou o rosto''.

O atacante e o treinador jamais esclareceram o tema publicamente. Passarella inclusive abandonou a entrevista coletiva depois do jogo chamando um repórter de mal-educado por fazer uma pergunta longa demais. Cruz, com a cara cortada, foi rasgado para sempre da seleção de Passarella, que jamais voltou a convocá-lo.

O jornal ''Clarín'' publicou que o corte no rosto de Cruz foi feito pelo então médico da seleção argentina, Luis Seveso, que teria cumprido uma ordem de Passarella – e todos inacreditavelmente erraram o lado do rosto para compor a farsa.

Pegou tão mal que até o governo argentino resolveu investigar e saber se o caso foi armado para tirar vantagem da agressão e pedir os pontos da partida que chegou ao fim depois de mais brigas, até com a polícia: vitória de 2×1 da Bolívia.

Óbvio que o caso logo caiu no esquecimento.

Quem não esquece deste assunto são os portenhos. Eles assumem que a Argentina jogou ''de graça'' a Copa de 1998. Rasgando regulamentos e driblando punições por mais esta trapaça que mancha o brilhante, mas totalmente enlouquecido, futebol da pátria de Di Stéfano e Maradona (e depois ainda viria um certo Messi…).