Patadas y Gambetas

23 anos e mil inimigos. Como Icardi virou o garoto-problema do momento

Tales Torraga

Cosecharás tu siembra, e Mauro Icardi já colhe os tristes problemas que plantou.

E o que plantou é tão absurdo que nem a Argentina imersa no caos consegue entender. Como publicar uma autobiografia aos 23 anos e contar que iria chamar cem assassinos argentinos para matar torcedores da Inter da qual é capitão?

Será que ele destinaria tal trato aos barra bravas da Rosário onde nasceu?


Será que o Campeonato Italiano já esteve pior?  Como Icardi pode ser capitão da Inter de Milão e portar uma braçadeira que já foi de Bergomi, Zanetti e Passarella?

Suas últimas mancadas são retratadas na Argentina como a falência da atual geração. Egocentrismo + imersão na tecnologia + falta de empatia ou interesse em qualquer contemplação que não seja a do próprio umbigo = só ostentar importa.

Poses, posses, postagens.

Suas redes sociais AAA com a mulher (e sua empresária) Wanda Nara machucam cada vez mais a Argentina de 32,2% de pobres. Aqui não há nenhum me gusta.

Só a constatação da escolha dos piores caminhos. Lembram sempre que Marcelo Tinelli, importante apresentador e dirigente argentino, se relacionou depois com a mulher de seu amigo e produtor. E decidiu jamais tocar publicamente no tema.

Icardi faz o contrário. Faz o que provocaria um rio de sangue em qualquer barrio.

Tais confrontações fecham as portas do mundo até a quem marca 6 gols em 8 jogos – é esta, sua temporada. A forma de viver caracterizada pela soberba esconde também a difícil relação de abandono e briga por dinheiro com os pais.


Icardi acumula mais inimigos que gols. A culpa do desastroso livro, pero pues, foi do tradutor. Escancara a cada passo que é uma triste marionete milionária a serviço dos maus conselhos. Se é inteligente, ou se conta com alguém assim ao redor, não dá espaço nem cenário a torcedores violentos. Mas há a insegurança, há também a insistência de se fazer de mau a todo custo para marcar território. Pobre.

A imaturidade demonstra a permissividade de quem o acompanha. As más condutas e a falta de respeito estão instituídas na sociedade, seja ela da classe AAA ou ZZZ.

(Icardi fez as divisões de base do Barcelona e por algo o deixaram ir, me lembram.)

O melhor negócio quase sempre é ficar quieto. Cerrar el pico. Agir; não falar. E no caso de Icardi, ter um técnico como José Mourinho – alguém ainda mais egocêntrico que seja capaz de confrontá-lo e detoná-lo só para demonstrar poder e enquadrar.


Enquanto isso não ocorre, Icardi vira até gíria em Buenos Aires. É a versão 2016 do ''mais falso que nota de três''. Criticar o caráter de alguém é dizer que ele tem ''menos códigos que Icardi''. Humoristas como o Prestico, claro, aproveitam – aqui.

A quem praticamente implora para ser benquisto na Argentina, lamentável.

Icardi é um Messi. Deixou Rosário sem atuar no país e hoje luta da forma que sabe para ganhar amor em seu berço. Só por isso não jogou a Copa de 2014 pela Itália.

Algo que ele talvez se arrependa um dia. Algo que parte da Argentina já lamenta hoje. Os humores estão abalados demais nesse canto de mundo para ler a ''centena de assassinos argentinos'' e não se sentir uma mera exportadora de marginais.


Borges e Cortázar. Icardi e Wanda Nara.

Só deram o Nobel a Dylan porque não leram Icardi.

''Hay mujeres que empiezan la guerra firmando la paz''
SABINA, Joaquín